Nancy Greenly estava deitada de costas na mesa de operações, fitando os refletores hemisféricos da sala de cirurgia número 8, tentando acalmar-se. Ela havia tomado várias injeções pré-operatórias, que, segundo lhe disseram, lhe dariam uma sensação de calma e felicidade. Ela não sentia nem uma coisa nem outra. Nancy estava mais nervosa e apreensiva do que antes das injeções. Pior ainda, ela se sentia total, completa e absolutamente indefesa. Em seus vinte e três anos de vida, jamais se achara tão confusa e vulnerável. Cobria-a um lençol branco. As bordas estavam puídas e havia um pequeno rasgão num dos cantos. Aquilo a aborrecia, sem que ela soubesse por quê. Por baixo do lençol, ela usava apenas uma daquelas camisolas de hospital, que se amarram por trás do pescoço e descem somente até o meio das coxas. A parte de trás era aberta. Além disso, havia apenas a toalhinha higiênica, que ela sabia já estar empapada com seu sangue. Naquele momento ela teve medo, odiou o hospital e quis gritar, sair da sala, correr pelo corredor. Mas não o fez. Ela temia mais a hemorragia que vinha se processando do que o cruel ambiente de alheamento do hospital; ambos lhe davam uma pungente certeza de sua mortalidade, e isto era algo que ela raramente gostava de encarar.
Biblioteca Viva
Em 1947 Érico Veríssimo começou a escrever a trilogia "O Tempo e o Vento", cuja publicação só termina em 1962. Recebe vários prêmios, como o Jabuti e o Pen Club. Em 1965 publica "O Senhor Embaixador", ambientado num hipotético país do Caribe que lembra Cuba. Em 1967 é a vez do "Prisioneiro", parábola sobre a intervenção do Estados Unidos no Vietnam. Em plena ditadura, lança "Incidente em Antares" (1971), crítica ao regime militar. Em 1973 sai o primeiro volume de "Solo de Clarineta", seu livro de memórias. Morre em 1975, quando terminava o segundo volume, publicado postumamente.
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