'Palavras orquestradas? Audições íntimas? Suspiros poéticos? Afinal, o que quer dizer Carlos Ayres Britto em Ópera do Silêncio, seu sexto livro de poesia? Que as aves que aqui gorjeiam não se comparam às cigarras que cantam ao por-do-sol de Brasília?
Muito pelo contrário, o poeta é o mesmo aqui e lá. Que a alma seresteira das sereias na falta de mar, se transmutam em cerejeiras, cantando em cores rosas? É possível, na medida do olhar do poeta que vê um par de sol, no ocaso do Planalto, centro do país. Que os milhares de pessoas que dormem nas ruas do Brasil também acordam em Brasília, junto com as buzinas, ambas cada vez mais crescentes? Sim, isso ele faz e diz. Que não importa se rei, bardo ou bobo da corte, quando a poesia chama para compor a Ópera do Silêncio sem maestro, sendo seu próprio regente? Será que ele quer que as pessoas ouçam a tocata que ele compõe em silêncio? E de que é feito esse silêncio? Do somatório das cigarras com as buzinas e batidas do coração? Será que o silêncio da Esplanada dos Ministérios tem a mesma afinação cardíaca com a ópera praiana de Atalaia? Sim, se nas duas tiver Rita? E que mulher é esta que provoca no poeta odes de amor e exaltação? Que país é este que o poeta tem de esfregar na cara a miséria dos miseráveis e dos poderosos? Que molas são estas que ejetam do fundo os caídos no poço do amor? Que mecanismos mentais da maturidade garantem que há coisas por não fazer/que são mais importantes/do que as coisas por fazer? Que olho não visto enxerga igualdade entre Buda e Cristo? Afinal o que é isto: um poeta Ministro ou um Ministro Poeta? Um místico togado? Um ser tomado de justiça e sentimentos tão humanos que chegam a ser divinos? Digo, demasiadamente humanos. Um homem feliz na presentificação dos seus dias (Cada novo dia é um pão fresquinho na mesa da existência). Um poeta realista que conclui: importa mais comer o pão do que saber o nome do padeiro falando de outras fomes, outras formas de escrever poesia, outras palavras que o silêncio traga e transforma em ópera sem morte de borboletas, sem gritos de Madame Butterflay, sem barítono, sem proselitismo, sem sonetismo, sem haicaísmo, sem academicismo, como convém a um poeta sempre em dia com a sua alma e o seu dentro no tempo de estar vivo.

Nenhum comentário:
Postar um comentário