Jonathan Noel, passado dos cinquenta anos, jamais teria contado com que um dia ainda lhe pudesse ocorrer alguma coisa de essencial que não a morte. Isso o alegrava, pois não gostava de acontecimentos e odiava francamente aqueles que abalavam o equilíbrio interno e confundiam a ordem externa da vida. Não tinha amigos, não conhecia os vizinhos do seu apartamento num cortiço de andares em Paris.
Tinha um simples é minúsculo quarto, mas era a única coisa de sua vida que se mostrara fiel. E nessa humilde ilha de tranquilidade sentia-se feliz, aquecido e protegido, até que numa manhã ao abrir a porta ele a viu. Estava agachada com pés vermelhos cor de sangue e, com uma lisa plumagem cinza-chumbo: a pomba.
É a narrativa teatral do caos microscópico que convulsiona durante vinte e quatro horas a vida da personagem principal. Uma parábola do medo, da insegurança e do vazio.
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