Considerado por muitos o grande livro de Clarice Lispector, A
paixão segundo G.H. tem um enredo banal. Depois de despedir a
empregada, uma mulher vai fazer uma faxina no quarto de serviço.
Mal começa a limpeza, depara com uma barata. Tomada pelo nojo,
ela esmaga o inseto contra a porta de um armário. Depois, numa
espécie bárbara de ascese, decide provar da barata morta.
paixão segundo G.H. tem um enredo banal. Depois de despedir a
empregada, uma mulher vai fazer uma faxina no quarto de serviço.
Mal começa a limpeza, depara com uma barata. Tomada pelo nojo,
ela esmaga o inseto contra a porta de um armário. Depois, numa
espécie bárbara de ascese, decide provar da barata morta.
Ao esmagar a barata, e depois degustar seu interior branco,
operou-se em G.H. uma revelação. O inseto a apanhou em meio a
sua rotina “civilizada”, entre os filhos, afazeres domésticos e contas
a pagar, e a lançou para fora do humano, deixando-a na borda do
coração selvagem da vida. Esse desejo de encontrar o que resta do
homem quando a linguagem se esgota move, desde o início, a
literatura de Clarice.
Mesmo sem ser um livro de inspiração religiosa, G.H. tem,
ainda, um aspecto epifânico. Ao degustar a pasta branca que
escorre da barata morta, a protagonista comunga com o real e ali o
divino - a força impessoal que nos move - se manifesta. E só depois
desse ato, que desarruma toda a visão civilizada, G.H. pode enfim
se reconstruir.
O escritor argentino Ricardo Piglia disse certa vez que toda a literatura pode ser reduzida a dois gêneros fundamentais: as narrativas de amor e as narrativas de mistério. Em G.H., essas duas caves básicas da ficção se entrelaçam. Pois é justamente a mistura letal de amor e mistério que chamamos de paixão.
operou-se em G.H. uma revelação. O inseto a apanhou em meio a
sua rotina “civilizada”, entre os filhos, afazeres domésticos e contas
a pagar, e a lançou para fora do humano, deixando-a na borda do
coração selvagem da vida. Esse desejo de encontrar o que resta do
homem quando a linguagem se esgota move, desde o início, a
literatura de Clarice.
Mesmo sem ser um livro de inspiração religiosa, G.H. tem,
ainda, um aspecto epifânico. Ao degustar a pasta branca que
escorre da barata morta, a protagonista comunga com o real e ali o
divino - a força impessoal que nos move - se manifesta. E só depois
desse ato, que desarruma toda a visão civilizada, G.H. pode enfim
se reconstruir.
O escritor argentino Ricardo Piglia disse certa vez que toda a literatura pode ser reduzida a dois gêneros fundamentais: as narrativas de amor e as narrativas de mistério. Em G.H., essas duas caves básicas da ficção se entrelaçam. Pois é justamente a mistura letal de amor e mistério que chamamos de paixão.
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